quinta-feira, 30 de agosto de 2012

PAI NOSSO DA UMBANDA


Pai-nosso que estas no céu, nos mares, na matas, e em todo mundo habitado.
Santificado seja o Teu nome, pelos teus filhos pela natureza, pelas águas, pela luz e pelo ar que respiramos.
Que o teu reino do bem, do amor e da fraternidade nos huna a todos, a tudo que criastes, em torno da Sagrada Cruz, aos pés do divino salvador e redentor.
Que a tua vontade nos conduza sempre para o Culto do amor e da caridade daí hoje o pão do corpo, o fruto das matas, a água das fontes para nosso sustento material e espiritual.
Perdoa se merecemos as nossas faltas. E dá sublime sentimento de perdão para os que nos ofendem.
Não nos deixe sucumbir ante a luta, dissabores Ingratidões, tentações dos maus espíritos e ilusões Pecaminosas da matéria.
Envia Pai um raio de tua Divina complacência luz e misericórdia, para os teus filhos pecadores que aqui labutam pelo bem da humanidade, nossa irmã. Amém.

O SEGREDO DE OGUM


Quando Ifé foi criada, tudo era felicidade e abundância. Os humanos e os orixás viviam, conjuntamente, num eterno clima de paz. Mas com o crescimento do mundo, o número de pessoas aumentava rapidamente, fazendo com que a comida se tornasse escassa. Assim, já não havia como sustentar tantas bocas.
Os orixás então se reuniram para discutir um meio de derrubar as grandes florestas para, com isso, aumentar a área de lavoura e acabar com a fome que já se avizinhava.
Ossãe, orixá das folhas, foi o primeiro a se oferecer para o desmatamento.
Desceu até o Aiê e pelejou durante dias, mas seu facão era de metal mole e não conseguia nem mesmo ferir as grandes árvores. Muito frustrado, ele voltou sem conseguir cumprir seu intento.
Depois dele, todos os orixás tentaram e, um a um, desceram para tentar cumprir a tarefa, mas pelo mesmo motivo, nenhum pode concretizá-la a contento.
Ogum que era o dono do segredo do ferro, dado a ele por Olorum, ofereceu-se para ir e experimentar seu facão. Mesmo sem acreditar no êxito, todos concordaram e ele desceu ao Aiê.
Em uma semana conseguiu desmatar uma grande floresta e assim o povo pôde plantar fazendo com que a prosperidade e a fartura voltassem a Ifé.
Ogum foi muito festejado por ter salvado a terra, mas deixou de ter sossego, pois todos, Orixás e humanos, viviam a cercá-lo pedindo para que lhes desvendasse o seu segredo.
Durante muito tempo relutando em atender aos pedidos, Ogum finalmente cedeu e ensinou aos Orixás o segredo do ferro.
Aos humanos deu o conhecimento da forja. Em pouco tempo todos tinham suas espadas, lanças, enxadas e vários instrumentos feitos daquele metal resistente.
E graças a ele a terra prosperou.
Saravá Ogum!

domingo, 26 de agosto de 2012

“A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo; revolta sempre os corações honestos”.






Vovó Maria fumegava seu pito e batia seu pé ao som da curimba enquanto observava o terreiro, onde os cambones movimentavam-se atendendo aos pretos velhos e aos consulentes.
Mandingueira, acostumada a enfrentar de tudo um pouco nos trabalhos de magia, sabia perfeitamente como o mal agia tentando disseminar o esforço do bem.
Sob variadas formas, as trevas vagavam por ali também.
Alguns em busca de socorro; outros, mal-intencionados, debochavam dos trabalhadores da luz. Muitos chegavam grudados no corpo das pessoas, qual parasitas sugando sua vitalidade.
Outros, por sobre seus ombros, arqueando e causando dores nos hospedeiros, ou amarrados nos tornozelos, arrastavam-se com gemidos de dor. Fora os tantos que eram barrados pela guarda do local, ainda na porta do terreiro e que, lá de fora, esbravejavam palavrões.
Da mesma forma, o movimento dos exus e outros falangeiros se fazia intenso no lado astral do ambiente, para que, dentro do merecimento de cada espírito, pudessem ser encaminhados.
Uma senhora com ares de madame se aproximou da preta velha para receber atendimento. Vinha arrastando uma perna que mantinha enfaixada.
– Saravá, filha – falou Vovó Maria, enquanto desinfetava o campo magnético da mulher com um galho verde, além de soprar a fumaça do palheiro em direção ao seu abdome, o que fez com que a mulher demonstrasse nojo em sua fisionomia.
Fingindo ignorar, a preta velha, cantarolando, continuou a sua limpeza. Riscando um ponto com sua pemba no chão do terreiro, pediu que a mulher colocasse sobre ele a perna ferida.
“ Será que não vai pedir o que tenho?”, pensou a mulher, já arrependida por estar ali naquele lugar desagradável. “Vou sair daqui impregnada por estes cheiros”!
Vovó Maria sorriu, pois captara o pensamento da mulher, mas preferiu ignorar tudo isso. O que a mulher não sabia era a gravidade real do seu caso, ou seja, aquilo que não aparecia no físico. Se ela pudesse ver o que estava causando a dor e o inchaço na perna, aí sim, certamente ficaria muito enojada. Na contraparte energética, abundavam larvas que se abasteciam da vitalidade do que já era uma enorme ferida e que breve irromperia também no físico.
Além disso, um egun, em quase total deformação, mantinha-se algemada à sua perna, nutrindo, assim, essas larvas astrais. Para qualquer neófito, aquilo mais parecia um cadáver retirado da tumba mortal, inclusive pelo mau cheiro que exalava.
Com a destreza de um mago, a Preta Velha sabia como desvincular e transmutar toda essa parafernália de energias densas, libertando e socorrendo o egun escravizado a ela.
Feitos os devidos “curativos” no corpo energético da mulher, Vovó Maria, que à visão dos encarnados não fez mais que um benzimento com ervas e algumas baforadas de palheiro, dirigiu- se agora com voz firme à consulente:
– Preta Velha até aqui ouviu calada o que a filha pensou a respeito do seu trabalho. Agora preciso abrir minhas tramelas e puxar sua orelha.
Ouvindo isso, a mulher afastou-se um pouco da entidade, assustada com a possibilidade de que ela viesse mesmo a lhe puxar à orelha.
“ Escutou o que pensei? Ah, essa é boa. Ela está blefando comigo.”, pensou novamente a mulher.
– Se a madame não acredita em nosso trabalho, por que veio aqui buscar ajuda? Filha, não estamos aqui enganando ninguém. Procuramos fazer o que é possível, dentro do merecimento de cada um.
– É que me recomendaram vir me benzer, mas eu não gosto muito dessas coisas...
–... E só veio porque está desesperada de dor e a medicina não lhe deu alento, não foi filha? – complementou a Preta Velha.
– Os médicos querem drenar a perna e eu fiquei com medo, pois nos exames não aparece nada, mas a dor estava insuportável.
– Estava? Por que, a dor já acalmou?
– É, agora acalmou, parece que minha perna está amortecida.
– E está mesmo, eu fiz um curativo.
A mulher, olhando a perna e não vendo curativo nenhum, já estava pronta para emitir um pensamento de desconfiança quando a preta velha interferiu:
– Vá para sua casa, filha, e amanhã bem cedo colha uma rosa do seu jardim, ainda com orvalho, e lave a sua perna com ela, na água corrente. Ao meio-dia o inchaço vai sumir e sua perna estará curada.
Não ousando mais desconfiar, ela agradeceu e já estava saindo quando a Preta Velha a chamou e disse:
– Não se esqueça de pagar a promessa que fez pra Sinhá Maria, antes dela morrer...
Arregalando os olhos, a mulher quase enfartou e tratou de sair daquele lugar imediatamente.
O cambone, que a tudo assistia calado, não agüentando a curiosidade perguntou que promessa foi essa.
– Meu menino, o que nós escondemos dos homens fica gravado no mundo dos espíritos. Essa filha, herdeira de um carma bastante pesado por ter sido dona de escravos em vida passada e, principalmente, por tê-los ferido a ferro e fogo, imprimindo sua marca na panturrilha dos negros, recebeu nesta encarnação, como sua fiel cozinheira, uma negra chamada Sinhá Maria.
Esse espírito mantinha laços de carinho profundo pela madame desde o tempo da escravidão, quando foi sua “babá” e, por isso, única poupada de suas maldades.  
Nessa encarnação, juntaram se novamente no intuito de que a bondosa negra pudesse despertar na mulher um pouco de humildade, para que esta tivesse a oportunidade de ressarcir os débitos, diante da necessidade que surgiria de auxiliar alguém envolvido na trama cármica.
Sinhá Maria, acometida de deficiência respiratória, antes de desencarnar solicitou à sua patroa que, na sua falta, assistisse seu esposo, que era paraplégico, faltando-lhe as duas pernas.
Deixou para isso todas as suas economias de anos a fio de trabalho e só lhe pediu que mantivesse com isso a alimentação e os medicamentos. Mas na primeira vez que ela foi até a favela onde morava o homem, desistiu da ajuda, pois aquele não era o seu “palco”. Tratou logo de ajustar uma vizinha do barraco, dando-lhe todo o dinheiro que Sinhá havia deixado, com a promessa de cuidar do pobre homem. Não é preciso dizer que rumo tomou as economias da pobre negra; em pouco tempo, para evitar que ele morresse à míngua, a Assistência Social o internou em asilo público. Lá ele aguarda sua amada para buscá-lo, tirando-o do sofrimento do corpo físico.
Nenhuma visita, nenhum cuidado especial. A madame se havia “esquecido” da promessa. Eu só fiz lembrá-la para que não tenha que voltar aqui com as duas pernas inválidas. A Lei só nos cobra o que é de direito, mas ela é infalível. Quanto mais atrasamos o pagamento de nossas dívidas, maiores elas ficam.
Por isso, camboninho, negra velha sempre diz para os filhos que a caridade é moeda valiosa que todos possuímos, mas que poucos de nós usam. Se não acordamos sozinhos, na hora exata a vida liga o “desperta-dor” e, às vezes, acordamos assustados com a barulheira que ele faz... eh, eh, eh... Entendeu, meu menino?
– Sim, minha mãe. Lembrei que tenho de visitar meu avô que está no asilo...
Sorrindo e balançando a cabeça a bondosa preta Velha falou com seus botões:
– Nega véia matô dois coelhos com uma cajadada só... eh, eh...
E, batendo o pé no chão, fumando seu pito e cantarolando, prosseguiu ela, socorrendo e curando até que, junto aos demais, voltou para as bandas de Aruanda.















                                                                                                                               
(Extraído do livro Causos de Umbanda)
Editado pelo médium Lúcio de Ogum
Da Tenda de Umbanda Pai Joaquim e Vó Maria do Congo
São Paulo-SP

DEVERES DO MÉDIUM


DEVERES DO MÉDIUM

1) Dar de graça o que de graça recebeu, Sendo o
Médium apenas um instrumento adstrito aos Guias,
Para que estes por seu intermédio orientem,
Aconselhem os irmãos encarnados na trajetória da
Vida terrena, quando isso merecerem, é dever do
Médium dar passes para amenizar sofrimentos, etc.,

2) Estar sempre a postos, no terreiro, nos dias e horas
predeterminados pelos Guias Espirituais, que exigem
Assiduidade responsabilidade e pontualidade.

3) Abster-se de preocupações laboriosas ou de outra
Ordem, Que possam ligar à matéria nos dias de
Trabalhos espirituais, E conservar o firme propósito
De que vai para o terreiro Cumprir a sublime missão
De médium. Deve o médium Guardar preceito nos
Dias destinados as sessões.

4) Pensar sempre que é um soldado a serviço de Jesus,
E como tal, esforçar-se por cumprir a Lei do Mestre:
Perdão, renúncia, humildade, caridade e amor ao próximo.

5) Ser resignado diante do sofrimento para dar exemplo
De coragem para lutar e vencer; não transferir seus
Problemas terrenos para os Guias Espirituais,
Lembrando-se que estes podem orientar e ajudar o
Médium no plano espiritual, dependendo tão somente
Do esforço de cada um, segundo nos disse Jesus:
Faze a tua parte que o céu te ajudará!

6) * Abster se de Sexo Pelo Menos 48 Hs Antes Das Giras.

* PROCURAR EVITAR AGITAÇÕES E FICAR O MAIS CALMO POSSÍVEL.

* TOMAR BANHO DE DEFESA ANTES DOS TRABALHOS.

* EVITAR BEBIDAS ALCÓOLICAS E FUMAR O MENOS POSSIVÉL.

* PROCURAR DECORAR E CANTAR OS PONTOS DURANTE O RITUAL.

* ESTAR SEMPRE EM SINTONIA E ATENTO AO RITUAL.

* AUXILIAR SEMPRE NO QUE FOR NECESSÁRIO.

* PROCURAR PARTICIPAR E COMPREENDER O RITUAL.

* SER SEMPRE PONTUAL E NÃO FALTAR SEM NECESSIDADE.

* SEMPRE MANTER UM BOM RELACIONAMENTO COM SEUS IRMÃOS DE FÉ.

* EVITAR FOFOCAS, E COMENTÁRIOS DESNECESSÁRIOS E CONVERSAS IMPRODUTIVAS.

*RESPEITANDO E TRATANDO COM CARINHO A TODOS PARA RECEBER O MESMO TRATAMENTO DOS IRMÃOS DE FÉ

NOSSOS CUMPADRES EXÚS E NOSSAS COMADRES POMBA GIRAS - GUARDIÕES DA UMBANDA

Existe uma cultura e um conceito muito difundido entre os populares, pessoas de outras religiões que não conhecem o trabalho da Umbanda, que é o dos nossos queridos Guardiões.
Exú não é demonio e nem é sincretizado com o diabo, seu sincretismo em algumas casas, quando ocorre, é com São Bartolomeu. É o Senhor das Encruzilhadas e trabalha sob as ordens de OGUM, tendo ainda seus Falangeiros em cada vibração de cada um dos outros ORIXÁS. É uma linha trabalhadora que atua no desmanche de trabalhos feitos, na limpeza astral da casa, na abertura de caminhos, na quebra de demandas e na limpeza pessoal dos Mediuns e da Assistencia. Atuam como "Psicologos" em suas consultas, dando conselhos e tirando duvidas a respeito dos "caminhos" das pessoas.
Dividem-se em suas Falanges em EXÚS (vibração masculina) e POMBA-GIRAS ou BOMBO-GIRAS (vibração feminina). Por serem defensores de pessoas menos favorecidas são vistos como marginais do astral, sem luz, agressivos e quizilentos, nossas cumadres são vistas como vulgares e como prostitutas do plano etereo, mas se engana quem assim os define, pois são leais companheiros e defensores a quem a eles recorrem.
Suas Falanges ou Linhas são diversas e as mais conhecidas são Linhas das Almas/Pretos Velhos Quimbandeiros, Linha do Cemiterio/Caveiras, Linha das Ruas/Encruzilhadas, Linha das Matas/Caboclos Quimbandeiros, Linha das Sombras, Linha do Mar, Linha dos Boemios/Cabaré, etc..
Ainda dentro desta Falange encontramos os EXÚS MIRINS, que são Falangeiros com roupagens de crianças ou adolescentes que trabalham junto com seus "Padrinhos", é uma Linha que não é bem vista em todas as casas devido ao grau de periculosidade na manifestação destas Entidades, mas uma vez que as mesmas são acolhidas e doutrinadas pela casa e pelos "Padrinhos", são otimos trabalhadores.

AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO VELHO


Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo, um triste preto-velho chorava. De seus olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces e não sei porque contei-as... Foram sete.
Na incontida vontade de saber aproximei-me e o interroguei. Fala, meu preto-velho, diz ao teu filho por que externas assim uma tão visível dor?
E ele, suavemente respondeu: Estás vendo esta multidão que entra e sai? As lágrimas contadas estão distribuídas a cada uma delas.
A primeira, eu dei a estes indiferentes que aqui vem em busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber...
A segunda a esses eternos duvidosos que acreditam, desacreditando, na expectativa de um milagre que seus próprios merecimentos negam.
A terceira, distribui aos maus, aqueles que somente procuram a UMBANDA, em busca de vingança, desejando sempre prejudicar a um seu semelhante.
A quarta, aos frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma e não conhecem a palavra gratidão.
A quinta, chega suave, tem o riso, o elogio da flor dos lábios mas se olharem bem o seu semblante, verão escrito: Creio na UMBANDA, nos teus caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o meu caso, ou me curarem disso ou daquilo.
A sexta, eu dei aos fúteis que vão de Centro em Centro, não acreditando em nada, buscam aconchegos e conchavos e seus olhos revelam um interesse diferente.
A sétima, filho notas como foi grande e como deslizou pesada? Foi a última lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os Orixás. Fiz doação dessa aos Médiuns vaidosos, que só aparecem no Centro em dia de festa e faltam as doutrinas.

Esquecem que existem tantos irmãos precisando de amparo material e espiritual.
Assim, filho meu, foi para esses todos, que viste cair, uma a uma
AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO-VELHO.

Lenda de Iansã


Oxaguiã em certa ocasião decretou guerra a todos seus inimigos. Como eram muitos, precisava de muitas armas. Pediu a Ogum que as forjasse, delas dependeria sua vitória ou derrota.
O ferreiro se pôs a trabalhar com sofreguidão, mas tantos eram os armamentos necessários que sua forja já não dava conta. Iansã, sua mulher na época, ofereceu ajuda e começou a soprar a forja para que o fogo se avivasse e Ogum pudesse continuar seu trabalho.
Esse esforço conjunto fez com que as encomendas saíssem à perfeição e assim a guerra foi ganha. Oxaguiã, contente e agradecido, resolveu fazer uma visita ao casal reconhecendo o valor do trabalho feito por eles.
Ao conhecer a bela mulher ficou totalmente apaixonado e tudo fez para que ela o acompanhasse.
As belas e encantadoras promessas feitas em sussurros encantaram Iansã e ela se foi com o rei para seu castelo deixando Ogum desanimado e tristonho.
Anos mais tarde nova guerra foi decretada. Oxaguiã correu a casa do ferreiro para fazer nova encomenda, conhecia e respeitava o trabalho de Ogum, este, porém o recebeu friamente dizendo que desta vez já não contava com o valioso sopro de Iansã o que deixava sua forja fria para o feitio de tantas armas.
O rei garantiu-lhe que teria o sopro necessário. Chegando ao seu reino ordenou à mulher que ajudasse Ogum, mas teria que ser dali, não poderia voltar ao velho lar.
Depois de muito pensar no que fazer, Iansã sentou-se em frente a uma janela da torre mais alta da construção e começou a soprar. Primeiro em pequenas baforadas que apenas faziam brisa.
A casa do ferreiro ficava do outro lado da terra e o sopro a ser enviado tinha que ser mais forte.
Concentrando-se em sua tarefa, puxava o ar e o soltava cada vez com maior ímpeto. Em pouco tempo o sopro transformou-se em vento que balançava as folhas das árvores.
Ao cair da tarde transformara-se em um tufão que varria todos os campos e terras por onde passava e chegava à forja de Ogum com a força necessária para avivar o fogo tão necessário.
Reconhecendo o esforço da mulher querida, ele se pôs a trabalhar com afinco. Pelas cidades onde os ventos passavam todos habitantes prostravam-se em terra para louvar a tempestade da bela Oyá.
Foi assim que Oxaguiã venceu a guerra novamente, usando o trabalho do casal que ele separara. Ainda hoje, quando há missões especiais, Ogum se põe em frente à forja e Iansã de sua torre sopra com energia. Separados por quilômetros de terra, encontram-se a força e a tempestade!

Exu e Pomba-Gira


Sem dúvida que existe muitas histórias sobre a linha da esquerda (exús e pombas-giras), mas claro que muitas dessas não conferem, e em muitos centros de Umbanda é difícil de se ver trabalhos sérios com essa linha.  
Os exús e pombas-giras são entidades que em muitas vezes não têm noção do que estão fazendo aos outros e a si próprios, sendo assim consideradas como "crianças" que fazem tudo que você pedir, mas é claro que nesse "pedir" existe uma cobrança de algo material, a final estão mais próximos das coisas terrenas.
E a nossa missão quando chegam a um Terreiro pela primeira vez, é doutrina-las para fazerem somente o Bem, sem jamais prejudicar qualquer pessoa que seja , e dai em diante trabalham sob o comando das entidades de luz, que conhecem as necessidades e urgências.
Como dissemos um exu é uma entidade que quando ainda na sua ignorância faz o que lhe for pedido e pago, mas as coisas não param só nisso.
Ao executar um trabalho maldoso, ela passa a cobrar cada vez mais a pessoa que solicitou e ao entender que aquela tarefa era errada, então se vira contra o solicitante e é nessa etapa que as coisas complicam.
Por isso que em um Terreiro tudo é feito sob o comando das entidades chefes, caboclos e pretos-velhos, pois as permissões vêm deles.
  O que os levam para lá?

Muitos são os fatores contribuintes para tal, pois quando encarnados podem ter feito coisas erradas, ou mesmo depois de desencarnado pode não ter aceito a situação e ter ido para as trevas. 
Mas de lá não saem mais?

Claro que saem, tudo nessa vida é mutável, para tudo tem estágios. Assim são eles, uma vez nas trevas começam uma caminhada para a evolução espiritual, que dará luz, paz, felicidade, crescimento, lições de nosso pai, e tudo mais que vem D'Ele.
Um exemplo: Exu de duas cabeças - apesar do nome, não quer dizer que tenha as duas cabeças, mas significa que pode trabalhar tanto pelo bem como pelo mal, e na Umbanda só faz pelo bem. 
É fundamental trabalhar com a esquerda?

Claro. A esquerda dentro de um terreiro, é quem segura a tronqueira, pois é feito o firmamento de um exu como chefe da esquerda e sob o comando dele trabalha todas as outras entidades da esquerda do terreiro, não podendo jamais fazer algo que contrarie a Lei.
O exu firmado como chefe, além de obedecer as entidades de luz chefes do terreiro, ainda trabalham sob o comando de Ogum (Lei), e se sair da linha "dança".
 
Veja que tudo é uma corrente e uma coisa só, a Umbanda trabalha sob a Lei que o Pai deixou escrita na Bíblia, representa a humildade, fé, caridade, esperança, perdão, etc... 

"Umbanda não faz milagre, Faz caridade!"


É fato comum chegarem aos terreiros, pessoas extremamente deprimidas, adoentadas ou desesperadas pelo fato de não encontrarem em nenhum outro lugar o remédio para seus males. Já passaram por consultórios médicos, igrejas, milagreiros de todas as espécies. Em todos os lugares, foram deixando sua história registrada, acrescida de decepção e gastos financeiros além da conta.
Com a promessa e a busca de “milagres”, pagaram dízimos ou oferendas, tentando terceirizar a solução de seus problemas ou de sua suposta “má sorte”. E enquanto seu saldo bancário e sua fé diminuem, sua decepção e dor aumentam.
O local que não cobra pela caridade geralmente leva a fama de ser “muito fraco”, pois infelizmente as pessoas ainda têm a falsa concepção de que “se não cobrar e bem cobrado, a coisa não funciona”. Além disso, há os que necessitam vivenciar o “fenômeno” para que sua fé tenha fundamento.
“Imagina... guia que fica só aconselhando, mandando rezar e mudar a maneira de pensar...”.
Como bem fala o ditado popular: “só quando a água bate onde não deve é que se aprende a nadar”. Assim, só como último recurso, no desespero total, é que eles batem à porta da
Umbanda. Mesmo descrentes, buscam o milagre, chorosos e vitimados pela vida. Ajoelham-se na frente do preto velho ou do caboclo e derramam lágrimas, dedilham rosários de reclamações, tentando convencê-los de que a culpa da desgraça é de todo mundo, menos deles próprios. Acolhidos com todo amor pelos guias de luz, não recebem promessa de milagre, apenas a exigência de uma gradual reforma íntima, aliada a mandingas que os limpam do lixo energético que conseguiram agregar ao longo do tempo.
Saem dali bem melhores do que entraram, quase sempre voltam e aos poucos compreendem que o milagre estava dentro deles próprios.
Não faltarão nessa lista os que, após a melhora, voltam a freqüentar os bancos da igreja aos domingos, exibindo saúde e roupas novas. Quando não, transformam-se em carregadores de bíblia, passando a combater ferrenhamente aqueles por quem foram ajudados. Jamais vão admitir que um dia entraram num terreiro de
Umbanda – coisa do capeta.
O que será que os
Pretos Velhos e Caboclos pensam disso?
Um dia desses fiz essa pergunta à Vovó Benta:
– Zi fia, nosso trabalho é a caridade e quem se dispõe a ela, esteja encarnado ou no mundo dos mortos, tem de saber que o “dar gratuitamente” sempre é motivo para darmos “graças” pela oportunidade de servir ao Criador, à sua obra. Ajudar esses filhos desnorteados é construir pontes entre o céu e a terra. Nunca podemos ou devemos esperar qualquer recompensa pelo bom serviço, a exemplo do Criador que distribui raios de luz ou gotas de água todos os dias a todos, bons e maus. O que cada filho fará com as dádivas recebidas só a ele cabe definir, escolhendo assim seu futuro. Sigamos fazendo o bem sem olhar a quem e façamos isso com a alegria de quem sobe os degraus para o céu, sem ter de pagar por isso com lágrimas ou moedas falsas. Lembre-se, filha, de que servir com alegria é servir duas vezes.
– Servir duas vezes?
– Sim, duas vezes. A você mesmo e ao próximo. Quando colocamos alegria e desprendimento, dissipamos qualquer possibilidade de nos machucarmos com nossa ação. Porém, o fazer por fazer ou para que as pessoas vejam que somos caridosos é um meio de ajudarmos aos outros sem, no entanto, estarmos com isso nos ajudando. O azedume que muitos “caridosos” carregam demonstra o quanto ainda sua caminhada é longa. Sem contar que pode ser um meio de captar para si as energias dos outros em vez de dissipá-las. Quanto aos filhos que viram as costas a quem os ajudou, não passam de
espíritos infantis que precisam do pirulito para adoçar suas vidas, ignorando que um dia o doce chega no palito. 

POR QUE USAMOS O BRANCO



Dentre os caracteres basilares de nossa Sagrada Umbanda, um dos elementos de grande significância e fundamento dentro da teurgia, liturgia e da magística, é o uso da vestimenta branca. Em 16 de novembro de 1908, data da anunciação da Umbanda no plano físico e também ocasião em que foi fundado o primeiro templo de Umbanda, Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, o espírito Caboclo das Sete Encruzilhadas, entidade anunciadora da nóvel religião, ao fixar as bases e diretrizes do segmento religioso, expôs, dentre outras coisas, que todos os sacerdotes (médiuns) utilizariam roupas brancas. Mas, por quê?. Teria sido uma orientação aleatória, ou o reflexo de um profundo conhecimento mítico, místico, científico e religioso da cor branca ?. No decorrer de toda a história da Humanidade, a cor branca aparece como um dos maiores símbolos de unidade e fraternidade já utilizados. Nas antigas ordens religiosas do continente asiático, encontramos a citada cor como representação de elevada sabedoria e alto grau de espiritualidade superior. As ordens iniciáticas utilizavam insígnias de cor branca; os bramânes tinham como símbolo o Branco, que se exteriorizava em seus vestuário e estandartes. Os antigos druídas tinham na cor branca um de seus principais elos de ligação do material para o espiritual, do tangível para o intangível. Os Magos Brancos da antiga Índia eram assim chamados porque utilizavam a magia para fins positivos, e também porque suas vestes sacerdotais eram constituídas de túnicas e capuzes brancos. O próprio Cristo Jesus, ao tempo de sua missão terrena, utilizava túnicas de tecido branco nas peregrinações e pregações que fazia. Nas guerras, quando os adversários, oprimidos pelo cansaço e perdas humanas, se despojavam de comportamentos irracionais e manifestavam sincera intenção de encerrarem a contenda, o que faziam ? desfraldavam bandeiras. E de que cor ? a branca, é claro !! O que falar então do vestuário dos profissionais das diversas áreas de saúde. Médicos, enfermeiros, dentistas etc., todos se utilizando de roupas brancas para suas atividades. Por quê ? Porque a roupa branca transmite a sensação de assepsia, calma, paz espiritual, serenidade e outros valores de elevada estirpe. Se não bastasse tudo o que foi dito até agora, vamos encontrar a razão científica do uso da cor branca na Umbanda através das pesquisas de Isaac Newton. Este grande cientista do século XVII, dedicando-se ao estudo das cores e da luz, em uma de suas experiências fez a luz comum (luz solar - branca) passar por um cristal em forma de prisma, conseguindo desdobrar a cor-matriz nas cores do arco-íris. Provou deste modo que a cor branca contém dentro de si todas as demais cores existentes. Newton realizou várias contra-provas para ratificar sua descoberta, onde podemos citar o famoso Disco de Newton. O cientista dispôs as cores alcançadas através de sua experiência num disco circular. Acionou a manivela, fazendo o disco girar sobre seu próprio eixo (rotação), momento em que as cores se fundiram, dando como resultado final a cor branca. Portanto amigos leitores, a cor branca tem sua razão de ser na Umbanda, pois temos que lembrar que a religião que abraçamos é capitaneada por Sete Forças Cósmicas Inteligentes (Orixás), sendo que a Cosmopotência Oxalá (Jesus Cristo), que tem a cor branca como representação, supervisiona as Seis Forças restantes. Experimentem fundir todas as cores representativas dos Orixás e verão que a cor final será a branca, como nos experimentos de Isaac Newton. Assim como a cor branca contém dentro de si todas as demais cores, a Irradiação de Oxalá contém dentro de sua
Fonte e Autorização: (Jornal Umbanda Hoje, Edição 15
Editor - Marco V. V. Pellizer)

domingo, 19 de agosto de 2012

SÚPLICA DE UM EXÚ


Sou EXU, Senhor!
Pai, permite que assim te chame, pois, na realidade, Tu o és, como és meu criador.
Formaste-me da poeira Ástrica, mas como tudo que provém de Ti, sou real e eterno. Permite Senhor, que eu possa servir-Te nas mais humildes e desprezíveis tarefas criadas pelos teus humanos filhos. Os homens me tratam de anjo decaído, de povo traidor, de rei das trevas, e gênio do mal e de tudo o mais em que encontram palavras para exprimir o Seu desprezo por mim; no entanto, nem suspeitam que nada mais sou do que o reflexo deles mesmos. Não reclamo, não me queixo porque esta é a Tua vontade. Sou escorraçado, sou condenado a habitar as profundezas escuras da terra e trafegar pelas sendas tortuosas da provação. Sou invocado pela inconsciência dos homens a prejudicar o seu semelhante. Sou usado como instrumento para aniquilar aqueles que são odiados, movido pela covardia e maldade humanas sem contudo poder negar-me ou recorrer. Pelo pensamento dos inconscientes, sou arrastado a exercer a descrença, a confusão e a ignomínia, pois esta é a condição que Tu me impuseste. Não reclamo, Senhor, mas fico triste por ver os teus filhos, que criaste à Tua imagem e semelhança, serem envolvidos pelo turbilhão de iniqüidades que eles mesmos criam, e eu, por Tua lei inflexível, delas tenho que participar. No entanto, Senhor, na minha infinita pequenez e miséria, como me sinto grande e feliz quando encontro com algum coração, um oásis de amor e sou solicitado a ajudar na prestação de uma caridade. Aceito sem queixumes, Senhor, a lei que, na Tua infinita sabedoria e justiça, me impuseste, a de executor das consciências, mas lamento e sofro mais porque os homens até hoje, não conseguiram compreender-me.
Peço-Te, Oh Pai infinito, que lhes perdoe.
Peço-Te, não por mim, pois sei que tenho que completar o ciclo da minha provação, mas por eles, os teus humanos filhos.
Peço-Te, não por mim, pois sei que tenho que completar o ciclo da minha provação, mas por eles, os teus humanos filhos.
Perdoa-os, e torna-os bons, porque somente através da bondade do seu coração, poderei sentir a vibração do Teu amor e a graça do Teu perdão.
UM EXÚ

"OBRIGADO, AMIGO EXU"
Marcone, homem de meia-idade e grande cultura geral, produto de uma educação esmerada em colégios de qualidade inequívoca, sob o alicerce fraternal de sua família. Além de engenheiro, dedicava-se a estudar a doutrina espírita com empenho sem-igual, a fim de estar sempre preparado a orientar os freqüentadores de um centro espírita, no qual exerce o cargo de presidente e principal palestrante.
Lapidado em conceitos ortodoxos que, ao invés de abrir-lhe os horizontes da Espiritualidade, mais o faziam mergulhar em um dogmatismo desenfreado. Marcone, durante as palestras que ministrava, quando indagado sobre questões pertinentes à Umbanda (ele era kardecista) se utilizava quase sempre de expressões depreciativas, asseverando que tal religião era constituída de espíritos e práticas atrasados, e que pouco ou nada contribuíam para auxiliar os doentes do corpo e do espírito.
Sua vida transcorria normal, com a habitualidade de sempre, alterando-se entre o trabalho, o convívio social, e as reuniões espíritas.
Certa ocasião, Carlos, seu filho de 10 anos, foi acometido de estado febril, acompanhado de pequenas convulsões. Preocupado, buscou auxílio médico, sem no entanto lograr êxito. Análises laboratoriais não apontavam qualquer tipo de infecção, bem como nada havia sido detectado a nível cerebral ou cardíaco.
Não deixando a medicina de lado, Marcone, como dirigente que era, passou a levar seu filho às sessões espíritas, na expectativa dos amigos espirituais ajudarem na cura do bom filho. Em determinada sessão, durante a leitura de nomes para irradiação, em cuja relação incluía-se o de seu filho, presente ali e já muito debilitado, Marcone foi surpreendido pela incorporação de um espírito em um médium integrante da mesa. Como na casa espírita que dirigia não havia incorporações, mas tão somente mensagens psicografadas e inspirações espirituais, o engenheiro prontamente se aproximou do médium manifestado, reprimindo-o energicamente por alterar a linha de trabalho do centro.
No momento em que Marcone admoestava o médium em transe, o espírito que a este se acoplara, apresentou-se, dando boa noite a todos os presentes. Disse que fora enviado àquele recinto para solucionar problema de ordem espiritual delicado que afligia certa pessoa da assistência, direcionando seu olhar para o menino Carlos. O dirigente, observando o comportamento diferente daquela individualidade espiritual, num misto de insegurança e arrogância, inquiriu o espírito sobre sua procedência e seu nome. O amigo espiritual, fitando firmemente Marcone, disse-lhe que realizava trabalhos em outra corrente religiosa, declinando seu nome , que aqui chamaremos Exu "A". Ante a identificação, o pai de Carlos, tomado de profundo preconceito, exortou aquele espírito que reputava como sem-luz, a se retirar e procurar a evolução que Marcone supunha que ele, o espírito, necessitava. Feitos apelos contundentes neste sentido, o espírito aceitou retirar-se, dizendo, antes de partir, que o enfermo a curar carecia de cuidados urgentes, sob pena do quadro tornar-se irreversível.
Após a partida do espírito Exu "A", o diretor Marcone criticou severamente o médium que tinha dado campo de atuação àquele espírito, exigindo maior atenção com aquela classe de espírito.
Os dias passam, e apesar dos passes e água fluidificada ministrados em Carlos, o garoto jazia num permanente estado febril e periódicas convulsões, acrescido agora de ostensiva anemia, deixando-o num estado mental depressivo. Marcone já não sabia a que recorrer, pois experimentara até a desobsessão, sem êxito algum. Desesperado com a patologia de Carlos, resolveu buscar auxílio no primeiro lugar que encontrasse, fosse o que fosse.
Saiu a perambular pela rua, entrando em quase todas a vias de seu bairro. Nada. Alcançou os limites de outro bairro. Nada. Já desanimado e sem ter com quem contar, Marcone tomou o caminho do lar. Entrando numa viela que lhe facilitaria encurtar a distância, ao passar por uma pequena casa ainda com tijolos à mostra, o pai aflito identificou o som que parecia ser de tambores. Sob inspiração de seus Guias, perguntou a um senhor de cabelos e vestimenta brancos que ali estava o que funcionava naquele local. Foi informado então que se tratava de um Templo de Umbanda. O engenheiro Marcone, constrangido, explicou a pessoa no portão parada que tinha na família pessoa que estava passando por sérios problemas de saúde, necessitando atendimento. Respondeu-lhe o humilde senhor que ele, Marcone, poderia trazê-lo, se assim desejasse, ainda naquele dia, pois a sessão estava em seu início.
Marcone pôs-se em fuga alucinada para sua residência. Enrolou o filho em um lenço, e, em companhia da esposa, rumou de carro para aquele endereço. Retornando à Casa Umbandista, foi levado juntamente com Carlos e Leila, sua esposa, ao salão de trabalhos espirituais. Incomodado com o barulho dos instrumentos de percussão, porém esperançoso na cura de seu filho, Marcone orou incessantemente, pedindo auxílio diante da situação.
Comandava as atividades Espírito-caritativo o Caboclo nomeado aqui de "Z". A certa altura da Gira, esta Entidade aproximou-se do aflito pai e disse-lhe que iria atendê-lo após o encerramento dos trabalhos que se realizavam, momento em direcionou um olhar de amor a Carlos,.
Duas horas se passaram até que a Entidade-Chefe desse por findo o trabalho, solicitando a seu cambone que esvaziasse o terreiro. Estando agora somente o Caboclo "Z", seu cambone, Marcone e sua família, o espírito solicitou ao engenheiro que levasse Carlos para as dependências externas da Casa, e o deitasse sobre um pequeno colchão, já colocado sobre o chão de terra batida. Advertido pelo Caboclo "Z" de que o êxito dos trabalhos alí a se realizar dependeria também de sua fé e amor, Marcone, inquieto, via-se diante de práticas espirituais que a doutrina de Kardec jamais o elucidara.
O Caboclo disse-lhe ainda que o trabalho ficaria a cargo de um outro amigo espiritual, devido ao problema presente estar diretamente ligado a sua área de atuação. Marcone, pensativo, limitava-se a ouvir aquela Entidade simplória, porém iluminada, dizendo-lhe esta que se afastaria do médium, mas estaria presente, supervisionando e auxiliando no que fosse necessário.
Ato contínuo, o médium do Caboclo "Z" foi tomado por uma outra Entidade Espiritual, que passou a cumprimentar os presentes. Marcone, sob forte vibração, notou que conhecia aquele olhar fixo; o tom da voz (psicofonia) não lhe era estranho. Não ousou indagar o espírito, que de forma vigorosa, dava instruções ao cambone sobre como proceder.
Após os preparativos, o amigo espiritual expôs resumidamente a Marcone que o pequeno Carlos achava-se em processo de obsessão, infligido por alguns desafetos do passado, e que a situação solicitava o concurso de medidas extremas para tal dissipação.
Marcone, encorajado a esclarecer-se sobre o fato, afirmou ao espírito que era dirigente de um centro espírita, e que lá havia sessões de desobsessão, consultando-o sobre a possibilidade do drama de seu filho lá ser resolvido. O companheiro de Aruanda explicou-lhe que devido ao atual estágio obsessivo de Carlos, a doutrinação dos desencarnados que o assediavam só surtiria efeito após a realização daquele trabalho.
Feitos os preparativos, a Entidade atuante ordenou ao cambone que fizesse na terra um círculo que envolvesse Carlos, e que colocasse sobre seu traçado material de grande fundamento dentro da Umbanda. Orientou aos presentes que guardassem distância, e que orassem de olhos fechados. Estando todos a postos, a Entidade que capitaneava o ritual ordenou ao cambone que "puxasse" um Ponto Cantado de atração e condensação de forças positivas, repetindo-o por três vezes. Depois foi cantado um Ponto de ação repulsora, momento em que o amigo do astral acionou a ignição do material no círculo mágico depositado.
Grande deslocamento de ar ocorreu, ao mesmo tempo em que se expandiam partículas de alto poder de corrosão. Ato contínuo, Carlos, então em estado torpe, foi acometido de grande agitação, que durou segundos, voltando depois ao estado de inércia inicial. Imediatamente o Espírito que comandava os trabalhos ordenou aos guardiões auxiliares (espiritualmente presentes) que imobilizassem os obsessores (eram dois) que encontravam-se atordoados e com queimaduras em seus corpos astrais, e os encaminhassem a detenção, até segunda ordem.
Marcone, assustado com o cenário que até então nunca tinha visto, notou com velada satisfação que Carlos abrira os olhos com brilho há muito não visto. Levantando-se ainda debilitado pelo vampirismo dos obsessores, perguntou ao pai que lugar era aquele e o que tinha acontecido. Aproximando-se dos dois, o Espírito benfeitor expôs que o perigo passara e que, embora naquele local se efetuassem trabalhos de doutrinação, ele, Marcone, mediante ordens superiores, poderia ministrar o devido esclarecimento àqueles espíritos detidos, em sua casa espírita.
Visível felicidade cobria as faces de Marcone e Leila. Distraindo-se em afagar Carlos, Marcone não percebeu que o Espírito trabalhador já se afastara do médium, não tendo tido a oportunidade de agradecer-lhe e nem saber seu nome. Perquiriu o dirigente daquele Núcleo Umbandista sobre quem era aquele Espírito, no que foi respondido em tom fraternal que importava naquele momento a saúde e o bem-estar de Carlos.
Os dias passam e com eles a febre alta, a anemia e as convulsões. Carlos, o filho querido, já tinha vida normal, e sequer demonstrava resíduos da patologia espiritual que o afligira. Marcone solicitou à Espiritualidade que lhe dessem a oportunidade de receber em sua casa espírita aquelas entidades pouco esclarecidas que outrora obsediavam seu filho. Foi atendido, fazendo um valoroso trabalho de conscientização e regeneração junto aos ex-obsessores.
Durante um sessão de estudos em que todos os presentes se voltavam a esmiuçar as obras literárias kardecistas, uma suave brisa de fragrância agradável fez vibrar positivamente todo aquele ambiente. Marcone então teve suas atenções voltadas para um médium da mesa, cuja fisionomia denotava profunda mudança. O médium, agora incorporado por um espírito, saldou a todos, conclamando-os a seguirem os ensinos de Jesus. O dirigente Marcone, sob forte emoção, identificou de pronto aquela Entidade Espiritual. Sabia agora que tinha sido a que se manifestara pela primeira vez naquele recinto para ajudar Carlos, e que fora injustamente convidada a se retirar. Tinha consciência também que era o mesmo Espírito que havia curado seu filho no Templo Umbandista.
Num incontido choro, aproximou-se daquela individualidade espiritual pedindo perdão pelo preconceito e discriminação que a fizera passar. A Entidade Exu "A" envolveu Marcone em cristalinas ondas de luz, pedindo mais compreensão e menos radicalismo. Proferiu ao dirigente espírita palavras de conforto e entusiasmo para as atividades espirituais.
O engenheiro Marcone, percebendo que a Entidade Espiritual já se despedia dos presentes, num gesto de humildade e simplicidade, virtudes que permeiam os grandes de coração, fraternalmente disse ao Espírito do Bem: "Obrigado, amigo Exu".
Salve os Compadres!
Salve as Comadres!
Salve nossos Guardiões!
Laroyê Exu !!!!

Linha dos Guardiões: Exu não é o Diabo!


Lamentável. Profundamente lamentável. Esta é uma das expressões que mais passam pela mente dos verdadeiros e estudiosos umbandistas que, ao percorrerem alguns terreiros, verificam quão distorcido é o conceito sobre a figura dos Exus, espíritos mal compreendidos, mas que, apesar disto, continuar a contribuir eficazmente para os trabalhos de Umbanda.
Antes de dissertarmos sobre estes humildes trabalhadores espirituais, que não medem esforços para minorar o sofrimento humano, necessário se faz buscar a etimologia (origem) do nome Exu, assunto que tem encontrado vasto campos de discussões. Basicamente existem três correntes de pensamento, ou doutrinárias, como queiram, que tentam explicar o nascedouro do vocábulo Exu.
A primeira corrente afirma que a palavra Exu seria uma corruptela ou distorção do nomes Esseiá/Essuiá, significando lado oposto ou outro lado da margem, nomenclatura dada a espíritos desgarrados que foram arrebanhados para a Lemúria, continente que teria existido no planeta Terra.
A Segunda corrente assevera que o nome Exu seria uma variante do termo Yrshu, nome do filho mais moço do imperador Ugra, na Índia antiga. Yrshu, aspirando ao poder, rebelou-se contra os ensinamentos e preceitos preconizados pelos Magos Brancos do império. Foi totalmente dominado e banido com seus seguidores do território indiano. Daí adveio a relação Yrshu / Exu, como sinônimo de povo banido, expatriado.
A terceira corrente afirma que o nome Exu é de origem africana e quer dizer Esfera.
Saliente-se que entre os hebreus encontramos o termo Exud, originário do sânscrito, significando também povo banido.
Ainda hoje, apesar dos esforços direcionados a uma maior estudo no meio umbandista, os Exus são tidos, pelos que não conhecem suas origens e atribuições, como a personificação individualizada do mal, o diabo incorporado. Tal imagem é fruto de más interpretações dadas por pessoas que, não tendo a devida cautela em avaliar fatos e objetos de culto, passaram a conferir aos Exus o título de mensageiros das trevas.
Na África, em cultos nativos, o Exu, então orixá mensageiro, era ligado ao elemento fogo, o que para as doutrinas judaico-cristã era e é a ferramenta do diabo para fazer arder as almas pecadoras no inferno, sendo assemelhado por isto a lúcifer.
Suas representações eram em formas de falos, significando a energia, a reprodução, o nascer de novo, a continuidade. Viajantes que por aquele continente passavam, deparando-se com tal quadro, vincularam os Exus a divindades da perdição sexual, da orgia, atributo conferido a satanás.
Esta imagem pejorativa de Exu-Orixá foi erroneamente absorvida e difundida por alguns umbandistas, sobretudo aqueles que tiveram passagem por cultos africanistas, o que fez com que uma gama de espíritos de certa evolução que vieram à Umbanda desempenhar funções mais terra-a-terra, fossem equiparados a falangeiros do mal, sendo até hoje os Exus simbolizados por figuras grotescas, com chifres, rabos, pés de bode, tridentes, sendo tal imagem do mal pertinente a outros segmentos religiosos.
Em realidade os Exus constituem-se em uma notável falange de abnegados espíritos combatentes de nossa Umbanda. São hierarquicamente organizados e realizam tarefas atinentes à sua faixa vibratória. São os elementos de execução e auxiliares dos Orixás, Guias e Protetores, tendo, entre outras tarefas, a de serem as sentinelas das casas de Umbanda, de policiarem o baixo astral e anularem trabalhos de baixa magia. Ao contrário do que pensam alguns, têm noção exata de Bem e Mal. São justos, ajudando a cada um segundo ordens superiores e merecimento daquele que pede auxílio.
São os Exus que freiam as ações malévolas dos obsessores que atormentam os humanos no dia-a-dia. São os vigilantes ostensivos, a tropa de choque que está alerta contra os kiumbas, prendendo-os e encaminhando-os à Colônias de Regeneração ou Prisões Astrais.
Em algumas ocasiões baixam em templos de Umbanda, ou mesmo em templos de outras religiões, espíritos que tumultuam o ambiente, promovendo espetáculos circenses, galhofas, e se comportando de maneira deselegante para com os presentes, xingando-os e proferindo palavras de baixo calão. Comportamento como estes não devem ser imputados aos Exus, e sim aos Kiumbas, espíritos moralmente atrofiados e que ainda não compreenderam a imutável Lei de Evolução, apegados que estão aos vícios, desejos e sentimentos humanos. Os Kiumbas, para penetrarem nos terreiros, fingem ser Caboclos, Pretos-Velhos, Exus, Crianças etc., cabendo ao Guia-chefe da Casa estar sempre vigilante ante a determinadas condutas, como palavrões, exibições bizarras, ameaças etc.
Um outro aspecto importante que merece ser suscitado diz respeito a alguns "médiuns" infiltrados no Movimento Umbandista. Despidos das qualidades nobres que o ser humano necessita buscar para seu progresso espiritual, contaminam e desarmonizam os locais de trabalhos espirituais. Tentam impressionar os menos esclarecidos com gracejos, malabarismos, convites imorais, encharcados de aguardente.
"Desincorporados", atribuem aos Exus e Exus Bombogiras (polo feminino) tais comportamentos.
Fatos como estes são afetos a pessoas sem escrúpulos, moral ou ética, pessoas perniciosas. Mau-caracteres, aproveitam a imagem distorcida de Exu para exteriorizarem o seu verdadeiro "eu". Estes "médiuns" não raras vezes, acabam caindo no ridículo, ficam desacreditados, dando margem, segundo a Lei de Afinidades, a aproximação e posterior tormento por parte dos obsessores.
Os Exus são espíritos que, como nós, buscam a evolução, a elevação, empenhando-se o mais que podem para aplicarem as diretrizes traçadas pelo Mestre Jesus. É bem verdade que em seu estágio hierárquico inicial os Exus ainda têm um comportamento às vezes instável, cabendo aos verdadeiros umbandistas o dever de não deixar que se desvirtuem de seu avanço espiritual. Porém, nada que justifique serem rotulados de criaturas fantasmagóricas, horrendas e repugnantes.
Fantasmagóricos, horrendos e repugnantes são aqueles que difundem esta visão de Exu, fazendo com que os iniciantes no culto fiquem temerosos quando um Exu se manifesta. Aqueles sim são kiumbas encarnados, que prestam um desserviço à religião, promovendo o terror, a obscuridade, o conflito, a confusão. Diminuem os Exus à condição de espíritos interesseiros, astutos e cruéis; que são maus para uns e bons para outros, dependendo dos agrados ou presentes que recebam; de moral duvidosa, fumando os melhores charutos e bebendo os melhores uísques.
A que ponto pode chegar a ignorância humana em visualizar estes seres espirituais como meros negociantes ilícitos, fazendo dos terreiros balcão de negócios, em total dissonância com o bom senso e a Lei Suprema. Exu não é marionete. Exu não é o diabo. Exu é símbolo de dinamismo, de aperfeiçoamento espiritual constante.

domingo, 12 de agosto de 2012

Lenda de Oxum

Quando já estava para desistir, resolveu descansar à sombra de uma árvore, quando ouviu um canto melancólico e reconheceu imediatamente a voz que tanto amava. Rapidamente subiu até a torre e tomou conhecimento de tudo que acontecera. Tentou de todas as formas tirá-la dali, mas Xangô havia sido previdente, usara de um artifício mágico que deixava a mulher presa dentro de um circulo e somente ele conseguiria libertá-la. Sentindo-se derrotado, Exu foi embora jurando que voltaria. Andou sorumbático pelos caminhos, a cabeça em turbilhão, quando se deparou com um velho que perguntou o porquê daquela tristeza. Onde estava a alegria tão comentada de Exu? Ele não teve forças para responder, apontou o alto da torre que se via ao longe. O velho era Orunmilá e não precisou de mais detalhes, apenas queria saber o tamanho do amor que unia aqueles dois e a resposta do rapaz foi o suficiente. Tirou um saquinho de sua vestimenta e entregou a ele recomendando que aspergisse seu conteúdo sobre Oxum. Cheio de alegria e esperança Exu voltou correndo à prisão de sua amada. Sem dizer nada apenas jogou sobre ela todo o pó que Orunmilá lhe dera. No mesmo instante Oxum transformou-se em uma linda pomba dourada e saiu voando direto para seu lar onde mais tarde se reencontraram e viveram felizes por muitos anos


Oba = Iansa

Obá era uma mulher cheia de vigor e coragem.
Faltava-lhe, talvez, um pouco de charme e refinamento.
Mas ela não temia ninguém no mundo.
Seu maior prazer era lutar.
Seu vigor era tal que ela escolheu a luta e o pugilato como profissão.
Obá venceu todas as disputas que foram organizadas entre ela e diversos orixás.
Ela derrubou Obatalá, tirou Oxóssi de combate
e deixou no chão Orunmilá.
Oxumaré não resistiu à sua força.
Ela desafiou Obaluaê e botou Exu pra correr.
Chegou a vez de Ogum!

Ogum teve o cuidado de consultar Ifá, antes da luta.
Os adivinhos lhe disseram para fazer oferendas,
compostas de duzentas espigas de milho e muitos quiabos.
Tudo pisado num pilão para se obter uma massa viscosa e escorregadia.
Esta substância deveria ser depositada num canto do terreno onde eles lutariam.
Ogum seguiu fielmente estas instruções.

Na hora da luta, Obá chegou dizendo:
"O dia do encontro é chegado."
Ogum confirmou:
"Nós lutaremos, então, um contra o outro."

A luta começou.
No início, Obá parecia dominar a situação.
Ogum recuou em direção ao lugar onde ele derramara a oferenda.
Obá pisou na pasta viscosa e escorregou.
Ogum aproveitou para derrubá-la.
Rapidamente, libertou-se do pano que vestia e a possuiu ali mesmo,
tornando-se, desta maneira, seu primeiro marido.

Mais tarde, Obá tornou-se a terceira mulher de Xangô, pois ela era forte e corajosa.
A primeira mulher de Xangô foi Oiá-Iansã, que era bela e fascinante.
A segunda foi Oxum, que era coquete e vaidosa.

Uma rivalidade logo se estabeleceu entre Obá e Oxum.
Ambas disputavam a preferência do amor de Xangô.
Obá sempre procurava aprender o segredo das receitas utilizadas por Oxum
quando esta preparava as refeições de Xangô.
Oxum irritada, decidiu preparar-lhe uma armadilha.
Convidou Obá a vir, um dia de manhã, assistir à preparação de um prato que,
segundo ela, agradava infinitamente a Xangô.
Obá chegou na hora combinada e encontrou Oxum
com um lenço amarrado à cabeça, escondendo as orelhas.
Ela preparava uma sopa para Xangô
onde dois cogumelos flutuavam na superfície do caldo.
Oxum convenceu Obá que se tratava de suas orelhas,
que ela cozinhava, desta forma,
para preparar o prato favorito de Xangô.
Este logo chegou, vaidoso e altivo.
Engoliu, ruidosamente e com deleite, a sopa de cogumelos e
galante e apressado, retirou-se com Oxum para o quarto.

Na semana seguinte, foi a vez de Obá cuidar de Xangô.
Ela decidiu pôr em prática a receita maravilhosa.
Xangô não sentiu nenhum prazer ao ver que Obá se cortara uma das orelhas.
Ele achou repugnante o prato que ela preparara.
Neste momento, Oxum chegou e retirou o lenço,
mostrando à sua rival que suas orelhas não haviam sido cortadas, nem comidas.
Furiosa, Obá precipitou-se sobre Oxum com impetuosidade.
Uma verdadeira luta se seguiu.
Enraivecido, Xangô trovejou sua fúria.
Oxum e Obá, apavoradas, fugiram e transformaram-se em rios.

Até hoje, as águas destes rios são tumultuadas e agitadas no lugar de sua confluência,
em lembrança da briga que opôs Oxum e Obá pelo amor de Xangô.

LENDA DE IEMANJÁ

Ao criar o mundo, Olorum definiu os poderes e os trabalhos de cada orixá. Para Iemanjá sobraram apenas as tarefas domésticas da casa de seu esposo Oxalá. Muito chateada por ter sido esquecida por Olorum, desatou a reclamar dia e noite nos ouvidos do marido. Aonde Oxalá ia, Iemanjá ia atrás reclamando em altos brados, durante meses e meses.Tantas foram as queixas de Iemanjá que Oxalá enlouqueceu e já não sabia fazer mais nada, abandonou suas atribuições e ficava a cantarolar músicas sem sentido totalmente alheio do mundo. Diante disso a esposa desesperou-se. Sabia que não seria perdoada por Olorum e o castigo deste seria terrível. O mundo precisava muito da atenção e dos cuidados de seu marido. Arrependida, passou a cuidar do ori do esposo com banhos e muitas comidas, sempre feitos com carinho e amor. O desvelo dela foi tão grande que Oxalá curou-se. Olorum então, reconhecendo o bem que Iemanjá proporcionou a humanidade, deu-lhe o poder de cuidar dos oris de todos os homens da terra. Assim ela passou a ser a dona de todas as cabeças e a receber sacrificios como todos os outros orixás.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

História de Ogum


É o Orixá Senhor das contendas, deus da guerra. Seu nome, traduzido para o português, significa luta, briga, batalha. É a divindade da metalurgia, do ferro, aço e outros metais fortes. Ogun é a força incontrolável e dominadora, do movimento, do choque. Patriarca dos exércitos, dono das armas. Ogum é o poder do sangue que corre nas veias. Orixá da manutenção da vida.
Como Exu, Ogum está presente no calor, na ira, no ódio, na cólera. Está presente nas batalhas, brigas, empurrões, na vontade de exterminar. É um Orixá, uma força da Natureza que se faz presente nos momentos de impacto e nos momentos fortes.
O encantamento de Ogun, aquilo que gera sua presença, se faz, como disse antes, nos momentos de impacto, tais como o choque entre dois objetos de metal; uma colisão no ar, no mar e na terra; no estrondo de algo pesado caindo ao chão. Seu encanto está na explosão, no derramamento do ferro fundido.
No dia a dia vamos encontrar esta força denominada Ogun nos estaleiros, nas oficinas de lanternagem, nos ferreiros, nos quartéis, no disparo de uma arma, no ato de se afiar uma lâmina, no trabalho com um serrote, no choque do martelo fincando um prego na parede, no despertar de um relógio, num grito de raiva na dor aguda.
A faca que penetra na carne, a bala que fura a carne, faz o encantamento da força da Natureza, Ogun. É o orixá do impacto, da detonação. O sangue que corre em nosso corpo é um fenômeno regido por Ogun. A vida mantida acesa num ser, é regida por Ogun, Orixá da defesa e da guerra, ele pode até evitar uma briga, mas gosta de lutar e é imbatível.
Ogun também é a viagem, a estada longe, os veículos. Ogun é a jornada, a empreitada, a luta do dia a dia.. É a estrada de ferro, o impacto do trem nos trilhos. Ele é o próprio trem... ele é o próprio trilho.
Considerando como um Orixá impiedoso e cruel, ele pode até passar essa imagem, mas sabe ser dócil e amável. No candomblé é o grande general, marechal e todas as lutas, o grande guardião, pai rígido e severo, mas apaixonado e compreensível.
Ogun é franqueza, a decisão, a convicção, a certeza, o fato consumado, as vias de fato. Ogun é o empilhamento de metais, a bateria que gera a energia, a pilha; é a própria energia, vibrante, incontrolável, devastador, Ogun é a vida em sua plenitude.
Ogun também está presente nas construções, nas edificações, no cimento que vai unir tijolos e construir casas. Ogun é a muralha, o obstáculo difícil de ser vencido. É o amianto, o aço, o ferro, a bauxita, o manganês, o carvão mineral, a prata, o ouro maciço, o diamante em estado bruto.Ele é também a lapidação, o aparelho cirúrgico, o aparelho dentário, o próprio dente. É o ato de cortar, morder, devorar, sem piedade e com a negritude da fome. Ogun também é o zinco, o cobre, o alumínio, o parafuso, o prego, a mola, a viga, a estrutura, o concreto, a dureza, a firmeza.
Mitologia
Ogun é filho de Iemanjá e irmão mais velho de Exu e Oxossi. Por este ultimo nutre um enorme sentimento, um amor de irmão verdadeiro e poderoso, capaz de matar e aniquilar quem puser em risco a tranqüilidade de seu mano Oxossi. Há quem diga, até, que Ogun zela mais pelos filhos de Oxossi que pelos seus próprios, tal é o sentimento que ele tem pelo irmão.
Ogum era um caçador, tranqüilo, calmo, pacato. Bom filho, bom irmão, atencioso e trabalhador. Era ele quem provia sua casa e família, pois Exu gostava de viajar pelo mundo. Oxossi, ao contrario, era mais descansado e contemplativo. Como irmão mais velho, então Ogun cuidava da caça, dos concertos, etc. Mas, dentro de seu coração, existia um enorme desejo em "ganha o mundo", como seu irmão Exu.
Num belo dia, ao voltar de uma exaustiva caçada, Ogun viu sua casa e família ameaçada por guerreiros de terras distantes. Ao ver a casa em chamas e seus entes queridos clamando por socorro, Ogun tomou-se de ira e, sozinho, cheio de ódio, arrasou com os agressores, não deixando um só de pé.
Daí por diante Ogun iniciou Oxossi na arte das caça; mostrou-lhe os caminhos e trilhas da floresta e lhe disse:
- Sempre que estiveres em perigo pense no seu irmão. Onde eu estiver voltarei para defendê-lo.
Aproximou-se de Iemanjá e se despediu:
- Mãe, preciso ir. Preciso vencer e conquistar. Está no meu sangue, essa é a minha vontade.
Desta forma, Ogun partiu e tornou-se o maior guerreiro do mundo. Mesmo sem exercito, vencia todos os exércitos, conquistando tudo aquilo que queria. Ogun se tornou a vitória, a força da conquista.
Esse Orixá, de temperamento explosivo e coração quente, é a força da Natureza talvez mas temida e respeita. Ogun é o gás, a explosão, a guerra, o choque de dois carros, o ferro retorcido, a luta entre os homens e os animais. Ogun é a valentia, a bravura, a coragem, a estocada, a largada, a chegada vitoriosa.
Ogun também é o ciúme, o desabafo, a disputa. Senhor dos metais e incapaz de ser derrotado.
O elemento de Ogun é a terra, e dependendo das qualidades , ou sejam sua fundamentação, carrega também os elementos água e ar.
Quando você sentir seu pulso, seu coração batendo, tenha certeza, Ogun está presente. Quando sentir que seu sangue corre nas veias, pense com convicção. Ogun está presente. Enquanto sentir que existe vida dentro de si, saiba, Ogun a está mantendo e abençoado.